Davilson Silva-
Conforme escreveu o Dalai Lama, respeitável líder
espiritual budista, “há inteligências geradoras de sofrimentos”...
Há um
certo poder que supera as paixões dos dominadores, cargos e títulos
honoríficos. Essa força soberana colide sempre com a exaltada
presunção, está em contínua sublimidade identificada com o Ilimitado e Fecundo,
permanecendo inalterável, límpida e harmônica. Estamos nos referindo ao maior
bem de todos os bens terrenos: o Bem Moral.
Assim como não se pode construir uma casa sem alicerçá-la, tampouco
se poderá construir a justiça sem uma base fraternal, fundamentada no ato de se
desejar ao próximo o que desejamos para nós, isto é, a caridade no mais alto
grau segundo o nosso amado Mestre Jesus.1 O mais legítimo dos
sacrifícios, o verdadeiro trabalho, o maior louvor a Deus consiste no esforço
para se ser justo; portanto, a maior de todas as glórias, de todas as
graduações deste mundo é a virtude da justiça!
Há quem ache a caridade mais
importante que a justiça... Sim. Porém... convenhamos! A caridade é o templo do
qual só a justiça pode ser a base. O sociólogo John Ruskin (1819/1900).2 disse com
força e serenidade que é preciso se edificar sobre a justiça pelo fato de,
geralmente, não se possuir, no começo, a ideia da caridade necessária à
construção. “Esta é a última recompensa do bom
trabalho”, afirmou. Completou
Ruskin, recomendando: “Sede justos para com vossos irmãos (podeis ser justos,
ameis a eles ou não) e concluireis por amá-los; sede injustos para com eles,
porque não os ameis, e acabareis por odiá-los”.
Justiça, fraternidade e amor ao próximo
Em princípio, justiça significa a virtude de
se dar a cada um o que é seu, o meio pelo qual podemos agir conforme o direito,
mas, também, sobretudo, conforme a fraternidade, resultante do amor ao próximo.
Somente justiça e fraternidade serão capazes de levar a cabo a tão sonhada paz
social, ambas um dever que não permite sentido diverso ou análogo, o que tanto
interessa a homens e mulheres de bem de todo o planeta.
Esse duplo dever figura um preceito para
conosco mesmo e para com os outros. Tal encargo consiste no que há de mais
básico e seguro, o que diz respeito à união e convivência dos seres humanos
como membros de uma imensa família, resumo do ato de julgar segundo o direito e
melhor consciência em defesa e responsabilidade.
Em geral, às paixões se mistura o julgamento,
alterando o sentido de justiça.3 Justiça, exatamente falando, é feita com concórdia,
reiteramos, e ninguém, nenhum chefe de qualquer nação conseguirá garantir
ausência de guerras, de toda sorte de distúrbio social, de atentados contra
pessoas, instituições, a pretexto de “liberdade” sob justificativas arbitrárias
e unilaterais.
A ideia de justiça que nos determina a dar a
cada um o que lhe pertence deveria predominar acima de quaisquer controvérsias.
A justiça constitui-se em um desses axiomas que transcendem. Pois bem. Não há
como estabelecer ordem sem a exemplificação do reparo e honradez, não existe
estrutura organizada capaz de garantir as esferas específicas da vida social
como as instituições básicas, suas atividades e correspondências que vigoram
entre si.
Julgamento íntegro
O julgamento da maneira mais íntegra possível
seria o determinante de todas as ações humanas. Tudo, em nossa sociedade, teria
que começar pela justiça como um sagrado dever recíproco de todo indivíduo,
porque direitos e deveres possuem correlação entre si — ao se cumprir estes
últimos, possivelmente os primeiros hão de ser cumpridos.
Reinará, sim, a fraternidade na Terra, não a
fraternidade de momento que, por ora, vige, geralmente, visando algum tipo de
interesse, mas a que conduz ao vínculo sincero.4 Presumir que isso é
impossível é duvidar da sabedoria e benevolência de Deus, ainda que nEle se
acredite. Há, portanto, perfeita correlação entre justiça e fraternidade, esta
outra tarefa do homem para com seus semelhantes, que jamais será um direito
formal, uma obrigação prescrita.
A verdadeira justiça fundamenta-se no
critério de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo. E não há
como se ser justo sem um sentimento fraterno. Justiça e Fraternidade: muitas
vezes, uma lei rígida, mas “suave”.5 Remetendo-nos à esplêndida menção de nosso Mestre ao nos
oferecer o Seu “jugo” essa lei tão-somente nos recomenda a observância
do amor ao próximo por amor a Deus e ponto final.
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