Davilson Silva-
A prece é um meio pelo qual se pode ter contato com o nosso Pai-Criador, depois de se pensar nEle, esperando que as nossas ideias e palavras O alcancem.
Brincadeira à parte, digo que, pelo contrário, em casa, resolvemos tudo com acordo e afetuosidade, e vamos ao conto do qual fizemos certa adaptação. Narra o texto, de autoria desconhecida (ninguém o assinou), que um pobre velhinho costumava entrar na igreja e sair rapidamente dela.
A prece é um meio pelo qual se pode ter contato com o nosso Pai-Criador, depois de se pensar nEle, esperando que as nossas ideias e palavras O alcancem.
Há algum tempo, minha mulher presenteou-me com a xerocópia de
um texto acerca de um tal “Zé” que, em determinada hora do dia, contraiu o
hábito de dar um pulo até a igreja mais próxima para rezar de um jeito muito
especial. Por achá-lo interessante, ela me sugeriu a veiculação. E como em casa
sou eu quem dá sempre a “última palavra”, disse-lhe: “Sim, meu bem, é pra já!”
(Ai de mim se não concordasse!)
Brincadeira à parte, digo que, pelo contrário, em casa, resolvemos tudo com acordo e afetuosidade, e vamos ao conto do qual fizemos certa adaptação. Narra o texto, de autoria desconhecida (ninguém o assinou), que um pobre velhinho costumava entrar na igreja e sair rapidamente dela.
Certo dia, o sacristão, que há muito tempo o tinha de olho,
resolveu dessa vez se aproximar, meio desconfiado, a fim de saber o motivo de
tal atitude, porquanto havia valorosos objetos de ouro e de prata e raríssimas
imagens barrocas de santos no templo católico:
— O que o senhor pretende?, indagou com certa austeridade.
— Ora, filho, rezar, replicou o velho.
— Que estranho! Eu nunca vi ninguém rezar tão depressa como o
senhor, disse o sacristão.
— Bem, eu não sei recitar aquelas orações compridas que o
amigo conhece. Só sei falar: Oi, Jesus, eu sou o Zé, vim te visitar, e
pronto, vou-me embora! Tenho certeza de que Ele assim mesmo me ouve... Não se
preocupe, meu bom rapaz, sairei num instante.
Alguns dias se passaram. O Zé sofreu um acidente e o
internaram num hospital público. Lá, ele contagiava todos com o seu otimismo e
contentamento: até os enfermos mais tristonhos tornaram-se alegres e
confiantes, voltando a sorrir. Uma das voluntárias do hospital, uma freira, ao
notar a transformação no quarto de enfermaria, dirigiu-se ao Zé e lhe disse
admirada:
— Zé, os outros pacientes dizem que você é alegre e otimista o
tempo todo!
— Ah, irmã, isso é verdade! Sou assim mesmo. É por causa de
uma visita que venho recebendo todos os dias.
A religiosa nada entendeu, ficou algo pensativa, confusa,
porque a cadeira próxima da cama do Zé conservava-se continuamente vazia; a
irmã nunca vira antes ninguém procurá-lo em nenhum dia da semana desde a sua internação,
e todo mundo sabia que o Zé era solitário. “Quem o visitaria afinal? E a que
horas?”, perguntou de si para si mesma.
Parecendo ler as inquirições da espantada professa, o Zé cujos
olhos principiaram a brilhar e o rosto a resplandecer, respondeu-lhe com
inflexão sublime:
— Todos os dias, ao entardecer, é sempre assim: uma leve brisa
primaveril toma-me conta, Ele aparece mansamente... Quando ouso dirigir-lhe a
palavra, a voz não sai, tremeleio, as lágrimas rolam, e ele tão-somente me
sorri. Logo em seguida, de seu hálito perfumado, saem estas maviosas palavras
como se eu ouvisse acordes enternecedores: “Oi, Zé! Sou eu... Jesus... Vim te
visitar”.
Jesus não dá
valor
Jesus não dá valor a preces que não tenham como objeto o bem
irrestrito do próximo. O Evangelho nos solicita mudança. Deixar para amanhã o
que se pode fazer hoje?!... Jesus conta já com a nossa mudança de sentimentos
menos dignos; é por isso que existe a prece para que possa oferecer sugestões
sublimes e consoladoras. A prece é um meio pelo qual se pode ter contato
com o nosso Pai-Criador, depois de se pensar nEle, esperando que as nossas ideias
e palavras O alcancem. Prece exatamente eficaz é aquela emitida plena de
energias benéficas e compreensivas de amor. A prece sentida, quando do remorso
verdadeiro, ou quando da aflição dolorosa, traz a bênção consoladora das
lágrimas ou o reconhecimento da humildade que refrigera.
Às vezes nos quedamos admirados com certas criaturas notáveis
pelo seu mau-caráter, por sua hipocrisia, alguns malcriados, ciumentos,
invejosos, impertinentes, malévolos, intolerantes e viciosos que rezam...
A questão 660 de O Livro dos
Espíritos explica que não é nada meritório rezar o tempo todo, e ainda
por cima sem humildade de admitir os próprios defeitos dos quais devemos deles
nos livrar para o nosso próprio bem.
Deus não Se compraz com rezarias decoradas, e sim com
rogativas embaladas pela fé atuante, e não apenas por fé de oportunismo (nesse
passo, rezar é bem diferente de orar). Agrada-Lhe sobremaneira os apelos de paz
e justiça, mas não os de tendências mórbidas, execráveis. Só uma fé
persistente, digna, é capaz de impelir a Alma de boa vontade a entoar
verdadeiros hinos de alegria e agradecimento ao Senhor, mesmo ante as
incompreensões e misérias do mundo.
Bússola da fé viva
Ditou o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier:
“A prece tecida de inquietação e angústia não pode distanciar-se dos gritos
desordenados de quem prefere a aflição e se entrega à imprudência, mas a tecida
de harmonia e confiança é força imprimindo direção à bússola da fé viva,
recompondo a paisagem em que vivemos e traçando rumos novos para a vida
superior”. Quem só se lembra de orar quando a dor o convoca a refletir sobre a
vida que leva, desequilibra-se, exaspera-se perplexo, enquanto quem se mantém
obstinado na oração, pela sua fé e caridade, ainda que as vicissitudes o
acometam de súbito, aproveita para amadurecer moralmente.
Mas, se uma daquelas criaturas de má índole acima aludidas
fizer mesmo uma prece longa e admitir as próprias falhas, não teria algum
mérito, já que ninguém é perfeito? Errar não é humano? Dizemos de passagem:
sim, errar é humano, mas acertar é mais humano ainda! A intenção das
ações, de um modo geral, é tudo para Deus. Entretanto, o essencial, segundo os
Espíritos, não é fazer preces extensas e reconhecer-se imperfeito; mas fazê-las
bem, ou seja, simples, sem pedir muito, com desejo de corrigir-se de verdade,
de pôr em prática esse desejo. Nosso Pai não Se impressiona com petições, além
de prolixas e vazias, pretensiosamente empoladas.
Não vale rogatórias bombásticas, fazer longas preces na
expectativa de exclusivamente se livrar de problemas imediatos sem antes saber
se estamos de conformidade com a Lei de Justiça e Amor. E, além de tudo, a
prece não depende de palavras nem de local, nem de hora. Por mais bela que
seja, se não tiver os predicados de que referiram os Bons Espíritos, eles, os
executores dos desígnios divinos, cujo papel é o de dissuadir o homem de
pensamentos que lhe causem danos, não a acolhem.
“Oi, Jesus! Eu sou o Zé!”... Simples, não?! Não queremos
sugerir, porém, que decidamos pelo referido estilo sucinto do humilde velhinho
de nossa história. Podemos sim fazer preces mais longas que a dele e até preces
decoradas: desde que as façamos com dignidade. Mas prefiramos as exprimidas de
nossa autoria, extraídas do fundo do coração. A prece não deve ser um mero ato
rotineiro, mecânico, enfadonho, qual se fora uma cantiga monótona, uma
cantilena. Em suma: a prece tem de reunir-se não só ao sentimento de fé, mas,
sobretudo, ao de amor ao próximo para que Jesus nos dê a Sua amorável
assistência e diga também a você: “Oi! Vim te visitar”.
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