Davilson Silva-
Certo orador falou sobre esse caso com uma impetuosidade tal
que, provavelmente, deve ter dado arrepios em seus espectadores. Outro dia,
assisti a um DVD de um simpósio relativo a problemas de relacionamento na casa
espírita. Após o orador imitar trejeitos e usar de ditos espirituosos
característicos do inigualável tribuno Divaldo Pereira Franco, deu-me a
impressão de estar assistindo a um desses vigários de ou sem batina, proferindo
“ameaças” do famoso Diabo.
Ora! Uma casa espírita, devidamente estabelecida, jamais a
fecharão. Nada ocorre por acaso. Uma genuína instituição espírita não se funda
à toa: ela é resultante de um fim providencial. Não vai ser por culpa de um
grupelho de vaidosos e egoístas que uma delas terá as suas portas cerradas. O
núcleo espírita é de inspiração divina, e abre as suas portas em favor dos
filhos de Deus para que estes O reencontrem.
Criaturas do estágio físico reunidas numa casa espírita não se
acham dentro dela a esmo. Foi tudo muito previamente planejado, em especial,
relativo à parte administrativa com a incumbência de manter, zelar pela sua
constituição, sobretudo, pela funcionalidade dos fins a que se destina. O
centro espírita representa ensejo de semeadura de luz no solo dos corações,
projeto de amor dos Luminares do Esclarecimento e da Benevolência.
Grande caminhada
E essa sintonia, essa integração, para o bom êxito de
um Espiritismo cristão e humanitário (palavras de Mestre Allan
Kardec), tem a ver com a prática do que ensinam os Espíritos Superiores. A casa
espírita resume-se, pois, em um templo previamente escolhido para união com as
Forças do Alto, sob a égide do amor e caridade incondicionais.
Não há outro móbil, tal a razão na qual se apoia um centro
espírita no mundo. Na casa espírita, há de subsistir a benevolência e o amor ao
próximo por amor a Deus, e os seus dirigentes farão penetrar nas massas a
necessidade de uma reforma íntima já neles iniciada. No entanto, a criatura
humana, Espírito encarnado passível de falhas, sabedora dessas coisas, deixa-se
dominar por seus reconhecidos defeitos morais, em detrimento do trabalho.
O sentimento excessivo da própria personalidade, o pendor à
monopolização da atenção, a presunção e outros defeitos pessoais do indivíduo
como vaidade, ciúme, inveja e, por consequência, o despeito tumultuam a obra.
Através de mesquinhas rivalidades, da indisciplina, das hesitações causadas por
algumas ideias, é aí que, de permeio, ocorre a ingerência dos Espíritos
malfazejos. Interessados na discordância entre um grupo invigilante ou entre
grupos, veem concretizar-se dispersões e antipatias.
No começo são flores
Toda obra fraterna de amor e orientação, em geral, desperta
sempre o interesse de muitos. Tudo no começo parece perfeito: ideias recebidas
com entusiasmo, voluntários mostram-se dispostos ante a possibilidade de
abraçarem logo as funções que a casa espírita disponibiliza; sugestões (algumas
até descabidas), projetos e indicações não faltam.
O núcleo espírita, admitamos, não deixa de ser também uma
instituição possuidora de estrutura administrativa na qual se deve respeitar
normas e cargos; trata-se de um organismo fundamentado na legalidade, igual a
qualquer empresa, ainda que sem fins lucrativos. Mas, na hora em que surgem as
lideranças impondo condições disciplinares, requisitando destaques, formam-se
os grupelhos das críticas condenatórias, surgem os blocos discriminatórios e a
ala da ciumeira; daí, queixas, insatisfações, maledicências, e o abandono das
tarefas.
Dependendo do agravamento do caso, o centro pode até suspender
suas atividades sim. No entanto, outros virão a fim de reassumi-las, visto que
casas espíritas não significam apenas construções de alvenaria, limitadas por
paredes e teto, com CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas), estatuto e
alvará de funcionamento, a ocupar um espaço de terreno. Acima dos homens e
apesar dos homens, está Deus desejoso do retorno de todos os Seus filhos a Ele,
e nada acontece à revelia da Sua Lei de Causa e Efeito.
Para concluir, a pergunta inicial: Espíritos das trevas podem
fechar centros espíritas? Não, em absoluto. Espíritos encarnados e
desencarnados não podem fechar centros, tampouco barrar o avanço do
Espiritismo. Problemas de relacionamento?! Existem em toda organização terrena,
religiosa ou não. No que diz respeito a casas espíritas, não se trata de um
problema insolúvel. Que os seus responsáveis estejam preparados a fim de,
quando necessário, poderem agir de acordo com o Ensino dos Espíritos
Superiores, ensino este que revela o fundo das palavras de Jesus no seu mais
amplo e sublimado sentido.
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