Por que uns se curam, e outros, não

Davilson Silva-

O êxito das intervenções cirúrgicas espirituais corresponde, muito mais do que se imagina, ao comportamento do enfermo, havendo pormenores importantes a se observar.

Há motivos que explicam por que uma pessoa é curada, e outra não, se ambas buscam o auxílio da cirurgia mediúnica. Às vezes, o portador de uma moléstia entrega-se ao desespero — a doença é incurável, ou de cura difícil. Então, ele procura um médium. Por imaginá-lo ligado ao fantástico, ao extraordinário, espera um súbito milagre.

Cristo Cura o Cego, painel a óleo, pintado na metade do século 17, por Eustache Le Sueur (1616/1655).
Se em cirurgias mediúnicas não se deve contar com um “milagre”, que dirá com um milagre instantâneo! A pessoa pode ou não conseguir bom êxito, por exemplo, numa cirurgia feita a distância através da irradiação fluídica no perispírito, ao dormir, ou executada com ou sem corte no corpo físico por meio de um médium de operações mediúnicas. Depende muito de um estado psíquico, de uma reciprocidade fluídica, oriunda de certa característica ectoplasmática.

O emprego desse tipo de energia psíquica é rigorosamente submetido a controle por Médicos Desencarnados e outras Entidades dedicadas à Medicina Transcendental. O êxito das intervenções cirúrgicas espirituais corresponde, muito mais do que se imagina, ao comportamento do enfermo, havendo pormenores importantes a se observar.

Fluidos saudáveis do enfermo tornam bem mais fáceis as tarefas dos Benfeitores Espirituais. Como resultado, podem ocorrer curas milagrosas (milagrosas, no sentido etimológico do termo milagre, de mirari, que significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente, e não um ato que contraria leis divinas, leis justas e perfeitas). Trata-se essa magna tarefa de um “processo de refluidificação”, consoante disposições metódicas, lembrando um tratamento hemoterápico.

Como exemplo e só para ilustrar, vale dizer que essa prática respeitante à medicina terrena consiste em o médico estimular o vigor do paciente. Como se sabe, o médico extrai uma quantidade de sangue para reinjetá-lo, quer de modo direto de indivíduo a indivíduo, quer apenas do sangue armazenado no paciente, daí, efetuar-se o que chamamos transfusão de sangue. Assim acontece mais ou menos na terapêutica transcendental, o que se denomina “fluidoterapia”, numa alusão a “passes”, método muito comum e aplicado em centros espíritas kardecistas.

Sem efeito colateral

Na transfusão que citamos como exemplo, ou seja, a praticada pela medicina terrena, observam-se rigorosas medidas a fim de não causar danos ao receptor. No caso do receptor submetido à cirurgia espiritual, não há efeitos colaterais, tendo ele, todavia, que observar esta medida absolutamente necessária: a manutenção de um bom nível de pensamentos e sentimentos.

Outro motivo para o êxito das cirurgias está nos preparativos básicos. Torna-se também necessária a observação de outras regras fundamentais, sem deixar de cumprir sequer um item recomendado pelo núcleo ao qual se recorre (cada núcleo possui preceitos e critérios peculiares). Tais indicações orientam e dizem como o assistido deve se portar e dar início ao procedimento.

Médium filipino de cirurgias espirituais, Tony Agpoa, atuando 
diretamente no local afetado pela enfermidade, no corpo do assistido.
Se durante a cirurgia a distância ou na presença do médium, no local onde ele opere, o assistido não proporcionar os meios solicitados para se submeter ao processo cirúrgico, os Espíritos executores desse mister terão seriíssimas dificuldades. O primeiro passo, e o mais fácil a ser cumprido, é a facilitação do conjunto de caracteres próprios e exclusivos da pessoa, tais como: nome, idade, residência, local onde se encontra. Por via de regra, há nos centros espíritas o Livro de Vibrações, ou Livro de Irradiações.

Porém não adianta o assistido escrever nome e todos os informes, o que, reitero, facilita o trabalho dos amorosos Benfeitores Espirituais, se o indivíduo não cumpre um regime alimentar adequado, se ele não se encontra no local data e hora preestabelecidos, não se mantém, sobretudo, tranquilo. Então, todo assistido que não estiver devidamente preparado e em paz consigo mesmo, cuja mente esteja saturada de fluidos sombrios em virtude de uma irritabilidade, de alguma altercação ou por outro motivo menos feliz, não alcançará a benfazeja assistência dos Médicos do Espaço, onde quer que esteja, de um modo ou de outro.

Constituem obstáculo, para terapeutas e cirurgiões espirituais, a maledicência, intriga, brigas familiares, além de mais este empeço: um recinto de pessoas viciadas. Isso impede o caridoso ato, sendo realmente difícil para os Espíritos atuarem num local onde há tabagistas, consumidores de bebidas alcoólicas, de outras drogas, desregramentos diversos e atitudes licenciosas. Os fluidos irradiados a distância ou aplicados diretamente no enfermo encontram resistência ante tais fluidos agressivos e danosos.

Nessas circunstâncias, os Benfeitores esbarrarão com os referidos impedimentos. A influência das energias salutares não predominará, sejam estas emitidas a distância, interferindo no perispírito, durante o sono, ou manipuladas diretamente no corpo físico do paciente. Os Espíritos quase nada ou mesmo nada poderão fazer pelo assistido.

Descrença atrapalha

A incerteza e o pessimismo representam outro obstáculo. Ora, se o enfermo duvida, mantendo-se em nível vibratório de descrença, de indisciplina, da mesma forma nada poderá ocorrer. Por se tratar de uma questão de foro íntimo, neste caso, os Espíritos tenderão a levar em conta o seu livre-arbítrio. Torna-se imprescindível a confiança na Providência, uma firme esperança no auxílio do médico espiritual, lembrando, além disso, do fator médium. Ele é o meio entre Espíritos e homens, e sua idoneidade e atributos morais são indispensáveis.

Torna-se imprescindível a confiança na Providência para que
os Mentores possam atender o enfermo na terapia à distância.
Ainda que com toda a fé e boa vontade expressada na disciplina e observância dos preparativos, se de um jeito ou de outro o enfermo não se cura, há certo pressuposto. Conforme a Lei de Ação e Reação, ou Lei da Causa e Efeito, fatos anteriores bons e maus sempre deixam prever os que hão de seguir-se; desse modo, se a pessoa não se cura, há de existir fortes razões regenerativas. Vejamos o que a esse respeito diz o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier.

Segundo Emmanuel: “Há criaturas doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitas, não porque desejem renovar concepções acerca dos sagrados fundamentos da vida, mas por se sentirem impossibilitadas de prolongar os próprios desatinos”.* Daí, a máxima de Jesus, em Mateus, capítulo 16, versículo 27: “A cada um será dado segundo suas obras” (entendendo-se por “obras” toda a caridade moral que se deve praticar sem condicionantes).

A máxima de Jesus exprime o princípio da Lei do Mérito, decorrência da Lei de Causa e Efeito, também conhecida por “carma”, conforme os antigos filósofos da Índia. E se eu afirmar que a pessoa pode até conseguir uma cura instantânea?... Pois bem. Seja como for, sim, tudo é possível (“tudo posso Naquele que me fortalece”, conforme Epístola 1.ª de Paulo aos Filipenses, cap. 4.º, vers. 13), principalmente, se nos consagramos a uma causa nobre em benefício do próximo, da Humanidade. Bem entendido: “tudo posso”, mas segundo lei do mérito.

Em vista do exposto, o êxito das cirurgias realizadas no tecido etérico perispiritual ou diretamente no tecido muscular faz parte de uma série de pormenores. E quem foi que disse que não podemos servir-nos da Medicina dos Espíritos para nos livrar de uma doença?!

Todavia, paciência. Determinadas moléstias incuráveis, toda deformidade física, no fundo, exprimem um bem, se a pessoa tiver de sofrer-lhes os efeitos. Revolta, pensamentos de castigo ou de paga de dívida, ou de supor que sofremos uma injustiça e outras ideias do gênero, só dilatam as atribulações. Logo, consideremos a dor que nos infelicite o dia-a-dia qual escoadouro de nossos defeitos morais, como algo que restaura e equilibra os sentimentos, experiência necessária que, certamente, trará como resultado a nossa perfeita felicidade, ou bem-aventurança.

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*XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 10. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1984. Tema 44, página 99.

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