Contam que desprendida e corajosa enfermeira inglesa de 34 anos de idade, de nome Florence Nightingale, decidiu partir da Inglaterra para a Crimeia, ela e mais algumas voluntárias.
Só a Alma superior volta
toda a sua atenção para o que é fundamental: a piedade e humildade segundo
padrões fraternais apresentados por Jesus de Nazaré, corroborados pelo
Espiritismo — um sentimento predisposto a desejar o bem de outrem sem
condicionante, algo fora do comum no mais alto grau.
Guerra da Crimeia , o desembarque das
tropas aliadas no Mar Negro
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Pode-se exercer o amor à
feição da caridade moral em quaisquer ocasiões. O momento máximo do amor ao
próximo por amor a Deus, às vezes, nos surpreende mediante curiosos aspectos
particulares. Eis, a seguir, um belo exemplo de comiseração humana.
Tudo ocorreu há cento e
cinquenta e seis anos, na Península da Crimeia, Rússia. Ingleses e russos
enfrentaram-se ferozmente por causa de impetuoso motivo: ambos desejavam obter
matéria-prima para suas indústrias e compradores para seus produtos
manufaturados. A Rússia queria uma saída para o mar e, nesse caso, a França
uniu-se à Inglaterra para conter o avanço das tropas do Czar Nicolau I, pelo
Oriente, através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, região pertencente ao
Império Otomano. Portanto, estava decretada a Guerra da Crimeia.
Da Inglaterra para a Crimeia
Florence
Nightingale (1928/1910)
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Em que pese o exército britânico possuir bastante fuzis modernos e precisos, navios e trens dos mais velozes para transporte de tropas, além de alimentos e remédios, estava desatualizado quanto à mão-de-obra médica. Por causa disso, a valorosa Florence empenhou-se por remitir o sofrimento dos semelhantes, fossem estes ingleses ou não fossem.
Notícias e mais notícias
de funestas ocorrências eram divulgadas pela imprensa inglesa, muitos feridos
acabavam morrendo em hospitais militares. Se da parte britânica e seus aliados
franceses, turcos e sardenhos tinha organização e melhores condições, da parte
russa, só carência e falta de recursos. No entanto, havia quarenta anos, o
exército inglês não dava sequer um tiro em inimigos, e o número de baixas por
morte ou ferimento aumentava, apesar das vantagens.
Um jovem soldado inglês
teve a felicidade de permanecer sob o amparo da célebre e bondosa enfermeira e
sua valorosa equipe. O soldado sofrera profundo ferimento no pescoço, causado
por golpe de baioneta em pleno combate corpo a corpo, numa batalha campal em
Inkerman, onde o número de mortos e feridos foi impressionante. Enquanto
convalescia no hospital militar de Scutari, o jovem aprendeu a produzir
belíssimas bolsas de contas; descobriu um meio de combater a tristeza, a
inércia.
Certo dia, alguém veio ver
os feridos e doou um saco de contas coloridas ao moço, tinha sabido antes que o
convalescente possuía habilidades manuais, vocação para artesanato. Desde algum
tempo, o soldado recobrava a saúde naquele hospital, conseguira sobreviver ao
grave ferimento nas duas cordas inferiores, as verdadeiras cordas vocais por
ser as que mais influem na fonação.
Não se rendia
A impossibilidade de
falar representava-lhe às vezes um verdadeiro inferno, por isso ele sentia
profunda angústia. Mas o soldado não se rendia ao sofrimento. Embora tudo lhe
fosse sombrio, o moço procurava manter-se confiante, ainda que suportasse a
falta de higiene, a miséria, o mau cheiro (isto, antes da chegada de Florence).
Algum tempo depois, uma
visitante se sentiu atraída por uma das bolsas confeccionadas por ele. Além de
elogiar o produto de seu trabalho, perguntou quanto custava e o comprou. Imensa
alegria o moço sentiu, precisava se expandir, de modo que chamou a atenção de
uma enfermeira — afinal, era a primeira vez que a fisionomia mudou desde que
foi internado.
“Nossa!”, observou a
voluntária. A enfermeira admirou-se por vê-lo tão contente e se sentiu dominada
por intensa curiosidade. A colega da notável enfermeira-chefe, a que inspirou o
suíço Henry Dunant a criar a Cruz Vermelha Internacional, quis logo saber o
motivo de tanta euforia, assim que atendeu a um outro ferido recém-chegado do
campo de batalha.
“Veja, enfermeira, que
sorte a minha”, o rapaz esforçava-se por falar, “aquela dama comprou uma
bolsa!”, podendo-se apenas ouvir sons guturais, emitidos de um jeito horroroso,
ininteligível. A voluntária, porém, alegrou-se por ele; fitou-o
enternecidamente, mas, ao mesmo tempo, sentiu um aperto; no fundo, ela desejava
poder-lhe contar algo... Faltou coragem.
Ato contínuo, de seus olhos, sentida lágrima rolou e ela se inclinou para acariciar a dourada cabeleira do soldado: “Sinto-me feliz por você, mas não compreendi uma só palavra do que disse... sou surda... por que não escreve?”, propôs isto e lhe ofereceu papel, pena e tinteiro. A fisionomia do rapaz indicou profundo sentimento de lástima, daí escrever: “Como pode alguém ter tanto ânimo, tanto amor, padecendo de tão grande aflição?!”
Ato contínuo, de seus olhos, sentida lágrima rolou e ela se inclinou para acariciar a dourada cabeleira do soldado: “Sinto-me feliz por você, mas não compreendi uma só palavra do que disse... sou surda... por que não escreve?”, propôs isto e lhe ofereceu papel, pena e tinteiro. A fisionomia do rapaz indicou profundo sentimento de lástima, daí escrever: “Como pode alguém ter tanto ânimo, tanto amor, padecendo de tão grande aflição?!”
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*Texto criado sob inspiração de diminuto conto que consta da série
Antologia da Literatura Mundial, de um autor desconhecido, Tomo I,
adaptado segundo fatos da biografia de Florence Nightingale (1820/1910) e da
história da Guerra da Crimeia (1854/1855).
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