Conceito sublimado de um sentimento

Davilson Silva-

Tolerância possui outro significado se tomada por algo de mais profundo, grande.

Max Frisch, arquiteto e escritor suíço do pós-guerra, influenciado pelo existencialismo e por Brecht, afirmou que a tolerância é sempre um indício de que um poder é visto como seguro. Segundo ele, quando se sente em perigo, nasce sempre a pretensão de ser absoluto; nasce, portanto, a falsidade, o direito divino do seu privilégio, a inquisição.

O inverso de tolerância: a execução do Inca Atahualpa pelos espanhóis. As religiões nativas 

foram proscritas pelo Cristianismo introduzido pelos invasores. Ilustração de A.B. Greene (1891).

Segundo o dicionário, o termo “tolerância” quer dizer propensão para admitir modos de pensar, de agir e de sentir diferente de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. Substantivo feminino, essa palavra tão usual exprimiria mais que um gesto de condescendência e grau de respeito a alguém contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física.

Tolerância possui outro significado se tomada por algo de mais profundo, grande. Neste caso, falamos de Indulgência no que este termo revela de mais afável, fraterno e de boa vontade com alguém, característico das almas sensíveis e dignas. Poucos trazem essa particularidade no íntimo. Em geral, ela apenas se mostra em parte por sua candura não transparecer sob o véu da opinião e conduta.

Contudo a tolerância, no sentido de indulgência, ou boa vontade, ou benevolência, só a caridade moral segundo a Lei Maior oferecida por Cristo pode realçar-lhe a limpidez, por isso mestre Allan Kardec a estabeleceu como regra; sem ela, lutas, preconceitos, violências, perturbações sociais, desassossego público, desrespeito às leis, procedimentos arbitrários permanecerão no mundo ainda por muito tempo.

E por falar em procedimentos arbitrários, isto nos remete ao problema da desigualdade social. O abuso, a exploração do trabalho infantil, a imposição desumana de condições de vida e trabalho, fundamentada na ganância do lucro, segue até os dias atuais. Daí, Kardec ter indagado às diversas Entidades sábias e bondosas da seleta equipe coordenada pelo Espírito de Verdade, nesta questão de O Livro dos Espíritos:

807. Que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?, indagou o insigne Codificador do Espiritismo.

— Esses merecem o anátema; infelizes deles! Serão oprimidos por sua vez e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que fizeram sofrer, responderam os Espíritos. 

Sede indulgentes 

E pela falta de bondade sincera ao próximo, que ainda persiste na alma humana, encerremos com a frase de uma mensagem ditada pelo bispo de Bordeaux, em 1862, que consta da obra O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 10, item 17: “Sustentai os fortes: estimulai-os à perseverança; fortificai os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento”.

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